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Isolados e criticados durante a gestão da ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015), dois setores da sociedade argentina —o agropecuário e o militar— selaram nas últimas semanas a reaproximação com o governo, agora conduzido por Mauricio Macri, de centro-direita.

Nos últimos dias de julho, Macri discursou na abertura da 130ª exposição da Sociedade Rural argentina, após 15 anos de ausência de chefes de Estado. Sua presença mostra a importância que dá ao setor e aos produtores agropecuários, que, como diz, são “os motores” do país.

“É o retorno à normalidade. Na Argentina, é normal que o presidente nos visite na feira”, diz o vice-presidente da Sociedade Rural, Daniel Pelegrina.

Os enfrentamentos dos produtores com o governo kirchnerista foram desencadeados em 2008 , quando se criou uma lei que taxava exportações de grãos, principal setor da agricultura do país.

Cristina, que considerava a Sociedade Rural uma representação do que foi a oligarquia do país, acirrou a rixa ao tentar (sem sucesso) expropriar o centro de eventos da associação, um espaço de 120 mil m² em Palermo, bairro nobre de Buenos Aires.

Em uma política oposta à de Cristina, Macri derrubou quase todos os impostos sobre exportações.

O resultado é que hoje os produtores são uns de seus maiores apoiadores: 61% deles acreditam que a economia vai melhorar nos próximos 12 meses, e 90% estão de acordo com o governo.

Com Cristina, em 2015, eram 9% e 8%, respectivamente, segundo a consultoria Jefferson Davis.

“Existe um certo exagero nesse otimismo, mas saiu de cena um ator [Cristina] que os agredia e chegou um que deu resposta às reclamações”, afirma o diretor da responsável pelo estudo, o sociólogo Juan Carlos Tejada.

Tejada lembra que, apesar das expectativas positivas do setor, a economia do país ainda enfrenta problemas sérios, como uma inflação anual que supera os 40% e o preço elevado dos insumos, a maioria deles importados.

Para o produtor Marcelo Salusso, 54, no entanto, as políticas de Macri não apresentam nenhum problema. “Antes estávamos submetidos a uma dirigente e tínhamos que esperar ela autorizar exportações.”

Salusso costumava guardar sua produção para vender apenas nesses períodos de abertura, pois, no mercado internacional, a cotação é melhor. “Algumas vezes, não podia esperar porque tinha contas para pagar.”

Cristina adotava essa política para aumentar a oferta interna e diminuir os preços, o que nem sempre acontecia, já que agricultores guardavam a produção.

MILITARES

Com os militares, a posição tanto do presidente Néstor Kirchner (2003-2007) como a de Cristina era de repulsa total e de condenação pela última ditadura do país (1976-1983). A ex-dirigente também reduziu o orçamento destinado a eles.

Macri, porém, chamou recentemente as Forças Armadas para terem uma participação ativa na vida do país. No início de julho, os oficiais já haviam participado do desfile em comemoração aos 200 anos da independência da Argentina “”eles haviam ficado sem convite para as celebrações por 16 anos.

“Sofremos muito nas últimas décadas, e não foi só o nosso setor, os agricultores também”, diz o coronel Francisco Verna, presidente da associação civil de militares.

Entre as principais críticas ao kirchnerismo está a redução da hierarquia dentro das Forças Armadas e o fim da autonomia para nomeação de oficias de alta patente.

“Agora se respira um outro ar. O discurso de Macri foi representativo e marca uma grande mudança deste governo. Agradecemos que eles nos deixaram participar do desfile.”